Um pedaço de mim quer asas. Quer asas só pra querer, só pra voar por cima dos lagos e das poças de tudo o quanto há de sujo sob nossos pés. Asas de nuvens, sfumato, de bater e desaparecer ao mesmo tempo. Outro pedaço de mim quer asas, mais asas, mais ases, de bater mais rápido que o ponteiro do relógio, de surpreender os segundos a cada dobra. Asas de metal, vibrando os harmônicos da passagem e visitar o futuro sem sair do agora, relógios escorrendo em ângulos retos. Mais um pedaço de mim quer asas, asas de voar pelas sombras e através delas, de mergulhar nos abismos e triunfar emergente, ou emergir triunfante - porque minhas asas são de transpor. Um pedaço de mim quer asas para disparar penas, setas envenenadas nos peitos inimigos e aliados: o dano é o meu dom. Viaja no fluxo sanguíneo a munição que estreita minha garganta e minha voz ascende poucas centenas de oitavas rumo à incandescência do sol. Ganiço. Um pedaço de mim quer asas e montar paquidermes impossíveis com pernas de pau, na circunavegação dos pólos do cérebro, derradeira travessia. Asas de atravessar em mim almas de lata, asas de barro, de bambu, de cerejeiras, cabelo humano, frottage, limão, éter, lipídio, retro-lavagem, pirografia, grattage, textura, asas de cera, de será e de sim.
Um pedaço de mim quer asas - bater todas ao mesmo tempo e voar, debandando de mim.
Introit
Repasso o link de uma pesquisa sobre as bandas independentes e o mercado em que elas estão inseridas. Há também uma pesquisa para donos de casas de shows.
Vale a pena responder. Vamos colaborar para a cena independente brasileira!
http://mapamusical.com.br/site/?page_id=5
Obs.: só é aceito um formulário por banda.
Interessante, portanto, os esclarecimentos que as estruturas míticas nos proporcionam a respeito do papel do herói. Resumidamente, parece ser alguém que, mesmo sabendo que seu fim é a morte, consegue enxergar na bruma uma determinada decisão, e carrega consigo a coragem necessária para levá-la à cabo.
---
Tenho medo, nojo e ódio de qualquer ditadura. Era um menino nos idos de 1964, e passei mais de 20 anos sofrendo com a convivência diária com a ignorância e a violência do regime militar. Eu o combati com as armas que tinha e me pareciam justas: ideias e canções. Hoje me arrepio diante do descaso dos governantes brasileiros em abrir os documentos que restaram daquela época, para que os filhos e netos de minha geração saibam do que aconteceu neste país maravilhoso. Para que tenham consciência de que aquilo não pode voltar a ocorrer. Aprendi a louvar a democracia como o maior dos bens da política e da cidadania.
O atual governo, o do Lula, é dono de muitas contradições. Tem acertos e erros como qualquer outro, anterior ou posterior. Mas na minha área, a de autor de canções, ele tem sido um desastre. Quem fala pela catástrofe não é o presidente, mas o ministro que ele nomeou e o ministério que está sob sua direção. Ministério da Cultura, que odeia a música brasileira, a nossa maior e mais influente bandeira, ao lado do futebol, no mundo.
Há sete anos e meio, os burocratas daquela repartição vêm ameaçando os autores e artistas brasileiros com uma mudança na lei que nos protege. E nunca houve uma reivindicação, nesse sentido, da classe dos autores. O direito autoral, talvez eles não saibam, está lá na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. É um desses direitos. A Revolução Francesa também assim o considerava. Direito autoral é sinônimo de civilização.
O contrário, e é o que o ministério do Lula defende, é a barbárie. Imagine, Lula, o que o Gonzaguinha diria dessa investida de sua administração contra as ideias que ele defendeu com tanto ardor enquanto esteve entre nós. Depois de sete anos de idas e vindas, de ameaças, no dia do primeiro jogo do Brasil na Copa apresentaram o monstro, para que pudéssemos opinar sobre ele durante 45 dias.
Dei uma boa olhada e vi que era um monstro. Um amontoado de asneiras de incompetentes. Seus auxiliares, Lula, são cínicos, pois dizem uma coisa quando pretendem outra. São mentirosos, pois na nossa frente falam algo que desmentem a seguir. Ignorantes, chamam de taxa o direito autoral. Taxa é coisa de Estado. Direito autoral é remuneração pela utilização de nosso trabalho. Não gostam da Constituição, por isso pensam que podem intervir em nosso direito, que é privado e não público, apesar do que diz o artigo 5º, XVIII : “a criação de associações independe de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento.”
E querem criar uma autorização compulsória, contra a vontade do autor, mesmo existindo a determinação constitucional que diz que “aos autores pertence o direito exclusivo de utilizar suas obras”. E eles não param por aí. O ministro e seus moçoilos da Fundação Getúlio Vargas dizem ser moderno o que pretendem. Eles são o atraso e a barbárie. Para eles, autor nada vale.
Valem as telefônicas e as empresas que querer usar as obras sem pagar. E aí eu me pergunto: para que atiçar e maltratar os artistas, em plena campanha eleitoral? Queremos apenas fazer nossa música e viver dela. Nos deixem em paz.
Depois de tanto tempo, anos de estudo, aprendizado, experimentação, infinitas aulas de trabalho corporal, milhares de aulas de música, caras a tapa em apresentações, e bla bla blá, eu me senti totalmente crua, como aos 16 anos. Toquei sozinha naquele palquinho que parecia enorme, com meu único companheiro, aparelho de som, que rodava um play-along com o acompanhamento de um piano. Minha cara ficou roxa, minhas pernas tremiam, minhas mãos derretiam de suor. Ao final, dei um sorrisinho mixo, como agradecimento, quase me escondendo atrás do baixo (o que não é muito difícil).
* Aliás, se alguém tiver um contrabaixo jogado às traças em casa, parado atrás da porta, dentro do guarda-roupa ou enfiado numa gaveta, manda pra cá que eu vou fazer bom proveito!
A palavra liberdade é muito presente na vida dos Mineiros e conseqüentemente dos Belo-horizontinos. Mas qual seria o motivo para isso?
Parece que temos uma necessidade dessa palavra.
Ela está presente em nossa bandeira escrita em Latim, ela dá nome a mais importante praça da cidade de Belo Horizonte, onde não por acaso se situa o mais alto grau do poder público do estado.
As questões religiosas, por exemplo, podem ser uma delas. A formação (repressão) católica muito marcante no estado que forja um mito ainda hoje presente, o da “Tradicional Família Mineira”. Um molde de comportamento que assombra àqueles que não se enquadram nele.